Eu sempre procurei não dar nomes às línguas para o meu filho, no caso, português e inglês. Parece uma preocupação boba, mas considerando que é um grande desafio manter dentro de casa o costume de usar a língua minoritária, eu sempre quis que a troca de língua e o uso fosse natural, evitando dar nomes para mostrar o caráter de diferenciação, e consequentemente, a consciência do tipo “por quê comigo tem que ser diferente”? Também temia que surgissem pessoas dizendo para ele coisas do tipo “não é para você falar inglês aqui” e ele pegar desgosto pelo nome e consequentemente pela língua (até onde sei nunca fizeram isso e ele aos dois anos já sabia quando usar cada língua). Mas é claro que é inevitável que o assunto venha a tona na frente do meu filho.
Alguns meses atrás para ilustrar nos momentos necessários comecei a dizer que a professora falava a palavra de um jeito e a gente de outro. Até teve uma vez que ele terminou uma atividade muito rápido e eu falei:
– Já?
E ele me respondeu:
– You said wrong pai. Rosana says “já”. (Você disse errado pai. A Rosana fala já)
A Rosana é o nome da professora dele e eu usei ela como exemplo pelo fato de na escola se usar estritamente o português. Em outros ambientes como em casa ou em casa de parentes ele tem liberdade para falar inglês quando quer.
Mas ontem falei para ele que fiz a matricula do ano que vem e que vai ter inglês (uma vez por semana) e expliquei que na escola iam falar que nem eu e ele. E ele perguntou, meio espantado e ansioso:
– Rosana is going to speak English? (A Rosana vai falar em inglês?)
Eu expliquei que seria uma nova professora mas a pergunta dele deixou claro que ele sabe agora não só quando se usa cada língua mas também que são línguas diferentes e com seus nomes respectivos. Ele terminou falando: English is funny (inglês é divertido).