A Copa do mundo já começa nesta semana. E eu com a Copa?
Nasci em 80. Passei pela Copa de 82, mas a primeira que me lembro foi a de 86. Na de 90 ainda não tinha paciência para assistir aos jogos. Preferia jogar bola enquanto o jogo acontecia. Em 94 já foi diferente. Eu tinha até a minha própria escalação e planos de jogadas ensaiadas. E vibrei muito, principalmente com o gol de falta do Branco e com o erro do Baggio. Mas foi também um ano muito sofrido para o meu time, Corinthians que já vinha de uma temporada ruim em 93. O futebol me abalava tanto que de repente decidi não deixar mais o futebol influenciar a minha vida. Mas ainda acompanhava os jogos da seleção brasileira.
Em 98 veio a Copa da França. Estava empolgado. Tinha 18 anos, e fui assistir aos jogos em bares, e até na Avenida Paulista. Mas deixei a final para ver com o meu avô na casa dele, como foi em 94. E que decepção. Naquele dia achei que havia algo de errado. E vieram muitas teorias.
Então veio a Copa de 2002 e como muitos disseram, o Brasil foi campeão. Teoria da conspiração? Não sei. Sei que fui festejar na Av. BeiraMar Norte em Florianópolis mas sem a mesma alegria. Só o que eu conseguia prestar atenção era em pessoas tendo as carteiras roubadas.
2006 e 2010 passaram meio batidos. Assisti aos jogos, mas para dizer a verdade nem me lembro deles. E eis que a Copa das Copas estava cada vez mais próxima. Apesar de ter gostado muito de futebol por uma época da minha vida, me senti excluído da sociedade quando o Cafu apresentou a bola Cafuza dizendo que era um nome que reunia as três coisas que o brasileiro gosta: Carnaval, futebol e samba. E eu não vivo por nenhuma das três. Para mim ser brasileiro vai muito além do que isso e não sou menos brasileiro por não ter o mesmo gosto.
Mas as coisas mudam quando se tem um filho de quase três anos. A Copa vai ser no Brasil. A Copa das Copas está se mostrando na maior vergonha que o Brasil pode ter exposto ao mundo. E apesar dos pesares, eu comprei uma camiseta do Brasil para o meu filho. Não a de R$ 160 da FIFA não. Uma de torcedor, por 1/3 do preço e que dá o mesmo direito de ser brasileiro.
A Copa está aí e eu tenho duas opções: mostrar para o meu filho o lado amargo da vida ou o lado bom. Escolho o lado bom, pois a Copa tem seu lado bom. Tem uma equipe dedicada, com jogadores que treinaram a vida inteira para estar nesse campeonato. Entre motivar o ódio ou vibrar, nós vamos vibrar e gritar gol.
E cada gol vai ser pela alegria de ser brasileiro, pelo gosto pelo Futebol, pela felicidade e habilidade dos jogadores que nos representam. Mas aí entra um ponto em que é importante saber separar as coisas. Nenhuma entidade ou governo pode ser dono de nossa alegria pelo futebol. Cada grito de gol não vai mudar em nada nossa opinião para reeleição. E se o Brasil for campeão? Vai ser a prova que o jeitinho brasileiro deu certo e então no fim do ano vamos manter a mesma coisa? Cadê o trem-bala? Cadê os aeroportos? Isso meu filho irá aprendendo com o tempo e verá que a alegria que já é nossa não pode ser usada como momentum por quem quase destruiu o evento que insistiu em sediar. Essa paixão nacional não está à venda e é para ela que vai o meu apoio e por ela que eu escolho festejar com consciência junto ao meu filho a Copa do Mundo do Brasil.