O histórico bilíngue na família do Arthur

Nesse post vou falar um pouco sobre o passado bilíngue na nossa família.

O bilinguismo hoje em dia é visto com estranheza no Brasil por muitas pessoas, mas é algo que já foi muito comum durante os períodos de grande fluxo de imigrantes. Hoje em dia, o bilinguismo infantil tem crescido muito por motivos diversos nos países desenvolvidos.

Eu não sou bilíngue, no sentido de ter uma segunda língua que surge com tanta naturalidade quanto a primeira. Comecei aprender inglês com quatro anos, mas foi uma sequencia de pouco desenvolvimento sem fugir muito das cores, números e verbo “to be” até a oitava série.

Sinceramente, uma vergonha por parte das escolas passar oito anos praticamente ensinando a mesma coisa. No fim, as escolas cumpriam uma carga horária em inglês mas sem se preocupar em formar crianças fluentes. E isso que eu estudava em uma das melhores escolas de Guarulhos, o Colégio Guilherme de Almeida.

Com 16 anos entrei para um curso semi-intensivo no Yázigi. Era um curso completo para ser feito em três anos. Como eu entrei pulando alguns módulos, consegui fazer em pouco mais de dois anos. Nessa época meu inglês era muito bom, mas não tinha com quem praticar. Depois meu inglês decaiu, mas hoje falando com o Arthur creio que meu inglês está ficando melhor do que o da época que aprendi.

Com meu pai a coisa foi diferente. Filho caçula de imigrantes japoneses, morando em um sítio em um vilarejo chamado “Vai quem sabe”, no município de Getulina ( interior de São Paulo), ele cresceu até os sete anos falando apenas japonês, acho que sem nem saber que se falava outra língua nesse país. Quando entrou para a primeira série, não falava nada de português e sequer conseguia pedir para ir ao banheiro. Acabou repetindo a primeira série. Mas claro, meu pai superou isso, apesar de que manteve um sotaque japonês até a faculdade. De oito filhos na família, somente meu pai e mais um irmão seu não se casaram com uma pessoa de origem japonesa. Os demais, mantiveram a cultura de conversar em japonês em casa, o que faz com que eu seja um dos poucos primos que não falam japonês. Eu não falo, mas do pouco contato que tive vejo um benefício: consigo aprender e repetir as palavras com facilidade, como se os fonemas japoneses não fossem difíceis para mim.

Com os meus sogros, a história foi parecida com a do meu pai, só que trocando o japonês por alemão. Eles são descendentes de alemães, mas de uma imigração bem mais antiga. Ainda assim essas colônias alemãs mantiveram a cultura por mais de 50 anos. Eles moravam em Arabutã, SC, que antes era parte de Concórdia, em uma colônia alemã e para eles o português veio depois como uma segunda língua.

Mas tanto no caso do meu pai quanto dos meus sogros, já há muitos anos a língua mais usada é o português mesmo.

Quando a minha esposa era bem nova, até os dois anos, a sua mãe estava fazendo pós-graduação em outra cidade e o pai trabalhava o dia todo. Então o mais fácil foi ela ficar morando a semana com a avó materna, que conversava com ela em alemão. Anos depois ela estudou em uma escola luterana que tinha como uma das principais matérias o alemão, então ela possui um bom contato com a língua. Os meus sogros também conversam muito entre si em alemão. Não sei desde quando fazem isso. Mas percebo que meu cunhado, que é mais novo que a minha esposa, entende bem o que se fala, apesar de ter dificuldade de se expressar em alemão.

Hoje moramos em Florianópolis e de família por perto temos apenas a minha irmã, um primo meu e a tia da Cleu. A tia da Cleu cresceu tal como a minha sogra, e é casada com um alemão que sabe falar vários idiomas. Ali o Arthur tem um bom contato com a língua alemã.

Crescer sabendo duas línguas pode trazer às pessoas muitos benefícios. Pesquisadores defendem que os benefícios são desde facilidade a aprender outras línguas até uma capacidade melhor de expressão e raciocínio.

Considerando o passado bem humilde dos avós do Arthur, com muito menos recursos do que a classe média dispunha em cidades grandes, fico pensando se o bilinguismo não foi uma das razões que os ajudou a sair da pobreza e serem pessoas “inteligentes”, mesmo com um ensino ruim se comparado a grandes centros.

 

Arthur com todos os avós

 

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Post Author: mario

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