Em 1993 eu estava na sétima série do primeiro grau e foi o ano em que completei 13 anos de idade. Eu gostava muito de ler a Folha de São Paulo, sobretudo de domingo, o caderno “Ilustrada” que contém informações sobre filmes, TV e o guia cultural da cidade.
Em um dos domingos de 1993 vi que naquela semana, na quarta-feira, começaria na TV Cultura um seriado retratando a vida de um grupo de adolescentes. E eu gostava muito da TV Cultura. O programa chamava-se “Anos Incríveis” e iria passar diariamente às 20:00.
Lembro de ter comentado com um amigo da minha sala de aula. Ele havia visto a propaganda e também queria ver.
Na quarta-feira veio o tão aguardado seriado. De cara, me choquei: se passa nos anos 60? Foi uma decepção, pois esperava uma coisa mais perto da minha realidade.
Fui reconhecendo algumas caras: o protagonista, vivido por Fred Savage, já tinha dado as caras em vários filmes. entre eles “Vice-Versa”, onde ele trocava de corpo com o pai (tema muito explorado).
Mas logo no primeiro episódio, passado o baque de ver que era uma coisa “épica”, fui me identificando muito com o seriado. O rapaz, Kevin Arnold, tinha 13 anos e iria começar o colegial (mas equivalente mesmo a sétima série aqui). Estava saindo de uma fase de criança para adolescente e vivia muitas situações parecidas com a minha. Acredito que quiseram a audiencia dos mais velhos com retratando uma época do passado. A audiencia dos jovens já estava garantida mesmo.
Esse seriado estreou na TV Cultura (com opção de tecla SAP, alta tecnologia para a época) e depois também passou na TV Bandeirantes e Canal 21 (um canal da Bandeirantes específico para a Grande São Paulo).
O mais interessante é que esse seriado começou a ser gravado em 1988 e terminou em 1993. Ou seja, o ator realmente foi crescendo durante as temporadas, até chegar aos quase 18 anos. Nos EUA passava uma vez por semana, mas no Brasil, como começou em 1993, tivemos o “privilégio” de assistir todas as temporadas em sequencia.
Todos os dias o horário nobre da TV era muito esperado por mim. Ainda bem que tinha mais TV em casa, assim o meu programa não era disputado com o Jornal Nacional. Minha vontade de assitir e não perder nada era tanta que eu sempre ligava a TV um pouco antes das 20:00. Com isso, acabava sempre pegando o final do que passava antes. Uma época era “As aventuras de Tin Tin” que comecei a gostar também e ajustei meu relógio para 19:30. Eu parava tudo o que estivesse fazendo, seja na rua ou em casa. Lembro-me bem até da propaganda: “apoio cultural, Cremutcho”.
Para mim, sempre foi a melhor coisa que já passou na TV. Nunca cansei de assistir e sempre esperei por um Box, que até onde sei, nunca existiu. Dá para encontrar no eBay e Mercado Livre alguns boxes, porém não são oficiais, são de gente que gravou de forma caseira. Dizem que até hoje o box não saiu pois devido ao grande número de músicas há uma dificuldade de acerto de direitos autorais das mesmas. Não sei se é verdade.
Esses dias, comecei a assistir novamente os Anos Incríveis. No primeiro episódio, vendo aquele garoto que “cresceu” comigo, o estranho foi que a conexão direta não foi mais pessoal. Vi o Kevin Arnold como uma criança, que se por um lado me trazia boas lembranças, por outro me fazia mais pensar no meu filho Arthur do que em mim. Muito interessante, e de fato o Arthur está a 12 anos do personagem enquanto eu estou a quase 20. Quando eu tinha meus 13 anos e assistia, percebia que os mais velhos, como minha mãe, poderiam gostar tanto quanto um adolescente mas pelo motivo das lembranças. Foi muito legal ver agora sob essa ótica e ainda enxergar ali coisas que meu filho vai passar. Fiz até um paralelo com o livro “O pequeno príncipe”, um dos meus favoritos, pois é um livro que pode ser visto e lido a qualquer idade que sempre terá uma mensagem diferente.
Se você nunca assistiu e te deixei curioso, aqui vai um pouco mais: Kevin Arnold é o filho caçula de uma família que mora em um subúrbio nos EUA. Ele tem uma irmã mais velha e um irmão com quem briga muito. Seu melhor amigo é Paul Pfeiffer (que muitos dizem que depois virou o Marilyn Manson, o que é falso) e seu caso mal resolvido é Winnie Cooper. Todos estes personagens ficam até o final do seriado.
Há algumas curtas participações notáveis, como David Schwimmer, Juliette Lewis e Alicia Silverstone. Não sei se passa na TV a cabo, mas se passar, vale a pena conferir.